November 7, 2007

Daffodil's Lament

Nunca consegui manter um diário por mais de uma semana que fosse. A grande dificuldade, para mim, sempre veio justamente da principal função de um diário - eternizar a memória de momentos que marcaram a vida do autor, exatamente como eles foram interpretados na época que ocorreram. A permanência das minhas palavras sempre me causou um certo desconforto, uma sensação de inaptidão e inferioridade.

Os pensamentos e sensações mudam, evoluem - e aquilo que um dia foi escrito, que é imutável por natureza, se torna obsoleto. Sinto vergonha de um dia ter rabiscado aquelas letras, de um dia ter sido aquela pessoa - vergonha ainda maior que reconhecer que ainda a sou.

Quem sou eu para macular a perfeita brancura daquelas páginas com minhas pretensões e desejos? Que direito tenho eu de achar que minhas mãos seriam dignas de tentar a arte reservada aos mestres?

Por isso o meu apego ao mundo virtual - a esse veículo de comunicação cibernético, onde nada, nem mesmo minhas próprias palavras são permanentes. A facilidade do irreal, do intangível. Fingir ser outra pessoa se torna muito mais simples quando as memórias e as mentiras podem ser apagadas com o mais suave apertar de um botão.